Twittando Microcontos

04/05/2017 16:03

Olá galerinha!

 Nós, do LêNie, resolvemos trazer hoje um gênero que, particularmente, amamos conhecer: os microcontos. E quem nos apresentou essas pequenas e envolventes narrativas foi o pessoal do 8º ano e sua dedicada professora, Angelica Storti, que é a pessoa mais indicada para contar para vocês, nossos leitores, como funciona esse universo de pequenos textos, mas que apresentam tão grande criatividade.

Abaixo, então, segue a explicação da professora Angelica e os microcontos dos alunos:

 Os ditados “Nos menores frascos, estão os melhores perfumes.”, ou ainda “O menos é mais” se encaixam perfeitamente dentro desse gênero textual ainda pouco conhecido e explorado: o Microconto.

Winston Churchill deu certa vez um sábio conselho: “Das palavras, as mais simples. Das simples, a menor.” Mas afinal, o que é um Microconto? Segundo Mario de Andrade: “Conto será sempre aquilo que seu autor batizou de conto.” Tratando-se de microcontos, pode-se dizer que é um gênero textual “jovem”, que consiste numa narrativa muito curta em que a síntese acaba sendo a grande ferramenta da escrita. Alguns teóricos o definem em até 150 caracteres – em que são contadas cada tecla digitada, ou seja, espaços e pontuações também entram na contagem.

Alguns dizem que a inspiração dos microcontos veio do Twitter – rede social em que cada post (tweet -- “pio” em inglês) tem o limite de 140 caracteres. São publicadas notícias, links curiosos, piadas, fofocas e diários pessoais, entre outras coisas. No entanto há controvérsias, já que a indicação do primeiro microconto escrito seja do guatemalco Augusto Monterroso, publicado em 1959, muito antes do surgimento da famosa rede social, em 2006. Sua história consiste em apenas uma frase: “Cuando desperto, el dinosaurio todavia estaba ali.”, que traduzido para o português: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.”.

Ernest Hemingway é também autor de um famoso: “For sale: baby shoes, never worn.” (Vende-se sapatos de bebê, nunca usados), ou este de Jody Smith: “Found true love nine months later” (Encontrou o amor verdadeiro nove meses depois). No Brasil, o livro “Ah, é?” (Editora Record, 1994) de Dalton Trevisan é tido como o pioneiro do gênero.

Ao apresentar este gênero tão atrativo aos jovens do 8º ano, foi preciso esclarecer que a concisão é a principal ferramenta de escrita, mas não a única: a narrativa precisa ter elementos desse tipo textual, tais como enredo, personagens, tempo e espaço determinados, clímax e desfecho. Tudo isso em, no máximo, 140 caracteres! Pode parecer muito simples, no início, mas é um trabalho árduo, que exige muito lápis e borracha, para que se lapide até encontrar as palavras certas, a pontuação que indique exatamente o que se quer propor. E mais do que narrar uma trama completa (com começo, meio e fim) as palavras devem sugerir... o que se lê é apenas parte da história. A continuação, às vezes com diversas possíveis interpretações, fica por conta da imaginação.

Após a apresentação e compreensão das características do gênero, foi proposto aos alunos que escrevessem três microcontos cada um, com temas livres, desde que não ultrapassassem 140 caracteres cada. A primeira parte do trabalho foi realizada em casa, no caderno de redação. Eles receberam o site https://microcontos.com.br/  como fonte de inspiração. A segunda parte do trabalho consistia na digitação dos textos, na sala de Informática do colégio, para que pudessem conferir o número de caracteres das produções. E então, grata surpresa: vários chegaram na sala de aula com diversos microcontos escritos, entusiasmados e alegando dificuldades em escolher os três melhores. O resultado foi tão positivo, que resultou neste artigo.

Dias como os de hoje, em que tudo precisa ser ágil, esse gênero textual é um convite a uma dose diária de literatura, especialmente para os que não

têm a leitura como hábito. Essa é a proposta deste artigo: fazer nascer novos leitores e escritores. Abaixo, seguem os melhores microcontos (selecionados pela professora em conjunto com os alunos) de cada aluno. Uma ótima leitura a todos!

Ele reclamava todos os dias do serviço, mas nunca parou pra pensar que era daí o seu sustento.

(Bárbara Dionísio da Silva)

As luzes do apartamento estavam apagadas aquela noite e as vozes de risada se transformaram em silenciosas lágrimas.

(Carolina Perez Avante)

Estava dirigindo, então veio a luz e ele nunca mais viu nada.

(Euller Lourenço Silva)

Ele estava sonhando, coisas felizes e calmas, mas acordaria em um lugar diferente.

(Felipe Luiz Domingos)

No começo ninguém colocou fé nela. Hoje, que ela se tornou uma das melhores do país, tem toda a atenção que lhe faltou no começo.

(Fernando Henrique Gonçalves Avante Filho)

A família foi viajar, mas o destino não foi o esperado.

(Gabriel Rosseto Penesi)

Duas entraram na sala de parto. Apenas uma saiu.

(Gabriela Murgel Buffo)

O assassino tanto matou, que o karma o levou aos seus assassinados.

(Guilherme Borges Bortotto)

Tinha certeza de que não tinha esse problema, mas quando descobriu que tinha já era tarde.

(Heitor Grava Buscariolo)

Com meses de espera, a barriga lhe deu um enorme sorriso. Que passou com os minutos.

(Helena de Almeida Prado Marques)

Separados. O homem chato, grosso e a mulher sensível, chorona. E eu? Guardei meus sentimentos para não magoar ninguém.

(Heloísa Marques Sedmak)

Disseram-me: “Você vai ficar pra sempre só”. Eu entendi ‘Sol’. E cresci iluminado.

(Isabella Caroline Perez Amorim)

Ele engoliu tanto os sentimentos que morreu engasgado.

(João Otávio Zuliani Paes de Menezes)

Ouviu seu filho chamar. Quando levantou, lembrou-se de que ele era mudo.

(Laura Bredariol Gonçalves)

A cor branca como cor do dia. Com sorriso de orelha a orelha, entrou como uma diva de cinema.

(Luana Cola Francisco)

Todos os dias o velho acordava e olhava o sol nascer. Um dia, acordou e não viu nada.

(Lucas Franceschi e Costa e Silva)

Viveu no passado e escreveu seu futuro. Porém, esqueceu-se do agora.

(Luiza Borgo Massoco)

O navio e seus 3107 tripulantes navegavam para seu último passeio ao brilho das estrelas. (inspiração : Titanic)

(Luiza Bredariol Gonçalves)

Toda noite assistia seus pais dormindo. Queria que pudessem vê-la dormindo também.

(Manuela Garcia da Costa Mello)

A falsa felicidade derreteu junto com a maquiagem.

(Mariana Sala)

A cozinheira ia alegre para a cozinha, preparar o almoço para a família. Era sempre a mesma receita, até que um dia, a quantidade diminuiu.

(Marina Dotto Thebaldi)

Ninguém quer ir para lá, mas no fim todo mundo vai.

(Marina Zamboni Gervazio)

Mandou a mãe ao inferno. Mas lá, não a encontrou.

(Mel Campanaro Guolo)

Quando a idosa solitária assoprou as velas, sua vida também apagou.

(Sofia Godoy Santos Marinho)

 

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